O VETO DO GUARDIÃO: Por que a decisão de Gilmar Mendes sobre o Impeachment de Ministros do STF gerou uma crise institucional?
- Hermes Vissotto

- há 11 minutos
- 4 min de leitura

Caros leitores, o noticiário recente foi dominado por um tema complexo e crucial para o equilíbrio dos Poderes no Brasil: a decisão monocrática do Ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), que alterou as regras para a abertura de um processo de impeachment contra os próprios membros da Corte.
A controvérsia, apelidada por alguns de "blindagem" judicial, gerou reações imediatas no Congresso Nacional e levantou o debate sobre os limites e o papel do STF.
O Imbróglio: Entendendo a Decisão
Em uma liminar concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 1.259, o Ministro Gilmar Mendes suspendeu trechos-chave da Lei n.º 1.079/1950 (a Lei do Impeachment), que regula o processo de responsabilização de diversas autoridades, incluindo Ministros do STF.
A essência da decisão, que será submetida a referendo do Plenário do STF, é a seguinte:
Quem pode denunciar? O Ministro decidiu que, a partir de agora, somente o Procurador-Geral da República (PGR) terá legitimidade para apresentar denúncias de crime de responsabilidade contra um Ministro do STF no Senado Federal.
O que mudou: A regra anterior permitia que qualquer cidadão apresentasse o pedido, cabendo ao Presidente do Senado decidir pela admissibilidade.
Fundamentação do Ministro: Gilmar Mendes argumentou que a lei de 1950 está "caduca" e é incompatível com a Constituição de 1988. Segundo ele, o instrumento do impeachment estaria sendo usado de forma abusiva e política para intimidar juízes e minar a confiança nas instituições, enfraquecendo o Estado de Direito. A intenção, afirma, é proteger a independência judicial de "iniciativas abusivas de caráter político ou retaliatório".
Como Chegamos a Este Ponto: A Crise dos Pedidos Abusivos
O pano de fundo da decisão é o aumento exponencial de pedidos de impeachment contra Ministros do STF, protocolados no Senado por parlamentares e, majoritariamente, por cidadãos comuns.
Historicamente, o impeachment é o mecanismo constitucional de freios e contrapesos que permite ao Poder Legislativo fiscalizar e destituir membros do Executivo e do Judiciário por "crimes de responsabilidade". No entanto, a alta frequência desses pedidos nos últimos anos, especialmente em um cenário de forte polarização política, foi vista pela Corte como uma forma de pressão e assédio político, e não como um uso legítimo do mecanismo.
A lei de 1950 previa uma abertura relativamente simples para o cidadão comum, o que, no entendimento do Ministro, gerou uma "indústria do impeachment" sem filtro técnico ou jurídico prévio.
Cronologia dos Fatos
Data (Aproximada) | Fato Relevante | Detalhe |
Desde 2020 | Aumento dos Pedidos | Crescimento no número de pedidos de impeachment no Senado, com forte foco em ministros que atuam em inquéritos sensíveis (como os que envolvem atos antidemocráticos). |
Recente | Análise da ADPF 1.259 | O Ministro Gilmar Mendes, relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, utiliza a ação para reavaliar os dispositivos da Lei de 1950. |
Dec. 2025 | Decisão Monocrática | Gilmar Mendes concede liminar restringindo a legitimidade para o pedido de impeachment apenas ao PGR e suspendendo outros trechos da Lei 1.079/1950. |
Após Decisão | Reação do Congresso | Forte reação de líderes do Senado e da Câmara, que criticam a decisão como uma "usurpação" de prerrogativa do Legislativo e uma "blindagem" indevida. Alguns parlamentares protocolam PECs para reverter a ordem judicial. |
Próximos Passos | Referendo do Plenário | A decisão liminar precisa ser submetida ao Plenário do STF para ser referendada (confirmada) pelos demais ministros, tornando-se definitiva. |
Pedidos de Impeachment: Quem São os Alvos?
O grande volume de pedidos de impeachment protocolados no Senado nos últimos anos demonstra a dimensão da crise.
Segundo dados do Senado, entre 2021 e 2025, foram protocolados dezenas de pedidos contra Ministros. A liminar de Gilmar Mendes poderia, inclusive, levar ao arquivamento de dezenas de pedidos que já tramitam na Casa, uma vez que não foram apresentados pelo PGR.
A seguir, apresentamos um levantamento dos ministros mais visados na atual composição do STF (dados podem variar ligeiramente dependendo da fonte e do período):
Ministro | Quantidade de Pedidos (Exemplos de Referência 2020-2025) |
Alexandre de Moraes | Cerca de 50 a 56 |
Luís Roberto Barroso | Cerca de 22 |
Gilmar Mendes | Cerca de 5 a 12 |
Flávio Dino | Cerca de 3 a 16 |
Cármen Lúcia | Cerca de 3 |
Dias Toffoli | Cerca de 2 |
Outros (Fachin, Fux) | 1 ou 2 cada |
O Debate sobre o Equilíbrio de Poderes
A decisão de Gilmar Mendes está no cerne do debate sobre o equilíbrio entre os Poderes na democracia brasileira.
Argumento pró-decisão: A restrição visa proteger a independência da Justiça, impedindo que juízes de uma corte essencial sejam alvo constante de manobras políticas orquestradas por adversários de suas decisões. A lógica é que o juiz deve ter a tranquilidade para julgar sem o medo constante de ser removido por pressões ideológicas.
Argumento contra a decisão: Críticos apontam que a restrição retira um importante mecanismo de controle popular e legislativo sobre o Judiciário. Ao dar exclusividade ao PGR (que é nomeado pelo Presidente da República), a Corte estaria minando o poder do Senado de fiscalizar seus membros, promovendo uma espécie de autoproteção e enfraquecendo os freios e contrapesos constitucionais.
O desfecho desta polêmica depende agora do Plenário do STF, que deverá decidir se confirma ou não a liminar do decano. Até lá, a tensão institucional permanece.

FAÇA PARTE DA NOSSA COMUNIDADE:
Youtube
Site
Newsletter








Comentários